sábado, 22 de junho de 2013

A INCOERÊNCIA DO DISCURSO DE DILMA



"Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniquidade  e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida" 
(Habacuque 1.2-4)


1- Nas últimas semanas o povo brasileiro invadiu a "maior arquibancada do Brasil" para protestar contra o governo e as autoridades constituídas. Na pauta dos protestos se destacam a indignação e a aversão à corrupção generalizada, o aumento das tarifas do transporte coletivo, a PEC 37 que tenta amordaçar o Ministério Público e os gastos excessivos para a copa das confederações e copa do mundo, tudo isso em detrimento das necessidades básicas da população (educação, saúde e segurança).
2- Na sexta feira (21 Junho 13)  por volta das 21h, a presidente Dilma Rousseff fez um pronunciamento em cadeia nacional. O discurso visava dar fim ou minimizar as manifestações populares que levaram cerca de 1,5 milhões de brasileiros às ruas. 
3- O discurso "politicamente correto" elogiou as manifestações de caráter ordeiro e democrático, porém, num arroubo narcisista que lhe é peculiar fez questão de destacar: "A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso... E ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros".
4- Dilma requereu para si e para sua geração os louros do povo  ter direito de "voz nas ruas". Ela enfatiza em tom prepotente que as manifestações de hoje são possíveis graças a ela e sua geração. A incoerência nas palavras da presidente e ex-militante está no fato de condenar a "truculência de alguns arruaceiros".  O que a presidente esqueceu de dizer é de que parte de sua geração usou exatamente da violência, truculência, baderna, depredação e arruaça para se fazer ouvir. O movimento do qual ela participou também era formado por "guerrilheiros armados" que assaltavam, sequestravam e matavam.
5- Todos nós condenamos e repudiamos o uso da violência e do vandalismo.  Nenhum cidadão de bem aprova atos de baderna e depredação de bens públicos ou privados, nem no presente, nem no passado ou no futuro de nosso país. Concordamos com a presidente que as manifestações devem ser de forma pacífica e ordeira. O que não podemos aceitar é o falso moralismo, a hipocrisia, o sarcasmo e o despotismo de um governo que no passado recente usou e abusou do vandalismo insuflando as massas. Como diz o ditado popular: "pimenta nos olhos dos outros é colírio".
6- Ao contrário de grande parte da geração de Dilma, os manifestantes de hoje não estão a serviço de ideologias socialistas ou comunistas importadas do exterior. Os manifestantes de hoje não pegam em armas e não treinam ações de guerrilha. Não estão a serviço de partidos políticos e nem são manipulados por sindicatos ou governos internacionais. Trata-se de uma manifestação patriótica, consciente e voluntária. Uma atitude pessoal de cidadania e indignação. Os manifestantes de hoje, não usam máscaras e nem codinomes. Vão as ruas de cara limpa e não se deixam intimidar pela repressão policial por conta de "meia dúzia" de baderneiros. Baderneiros estes, aliás, cujas práticas são condenadas pelos manifestantes.
7- Outro deslize da presidente foi reivindicar que não abre mão do combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Na contramão e contradizendo o discurso presidencial ouve-se o eco da "voz das ruas" bradando contra a inércia de suas ações contra a corrupção. 
8- Como mancha no discurso de Dilma, está o fato de seu governo abrigar parte dos "aloprados" mensaleiros já condenados  por corrupção pelo Superior Tribunal Federal. E fazendo sombra a frase que  " a melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor" temos a suspeita nomeação do advogado Luís Roberto Barroso  para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que afirmou com todas as letras que o julgamento do mensalão foi "um ponto fora da curva".
9- Vale ainda ressaltar que no início das manifestações muitos políticos profissionais e seus assessores se posicionaram contra o protesto. Mas quando o movimento alcançou proporção nacional, tal qual camaleão, os tais de olho nas eleições mudaram de postura. O recado que vem da "voz das ruas" não pode ser subestimado  A insatisfação é geral e atinge todas as esferas dos governos municipais, estaduais e federal. Minimizar e tentar desqualificar as manifestações em virtude de poucos baderneiros é um insulto a nossa inteligência. 
10- Quero registrar que sou apartidário. Não sou filiado a nenhum partido político. Não defendo e nem levanto nenhuma ideologia partidária. A bandeira que levanto neste artigo é a do caráter, da moral e da ética. Levanto a bandeira da manifestação pacífica, do voto consciente e do repúdio aos discursos vazios.  Registro reprovação ao vandalismo e também a hipocrisia, pois discurso e prática quando são incoerentes sinalizam hipocrisia. E eu estou cansado tanto do vandalismo  quanto da hipocrisia...


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