“E, quando comecei a falar,
caiu sobre eles o Espírito Santo” (Atos
11.15a)
O versículo citado
acima é parte do discurso de defesa de Pedro diante da liderança da igreja
primitiva em Jerusalém. A defesa era em relação aos fatos acontecidos e
narrados no capítulo de número dez do livro de Atos.
Neste período, o
cristianismo estava dando seus primeiros passos. Os primeiros cristãos eram
essencialmente judeus e a cultura judaica ainda estava fortemente arraigada nos
costumes e nas ações da igreja incipiente.
Qualquer contato com
gentios tornava o judeu cerimonialmente impuro, e, por causa desta
interpretação, a igreja primitiva não se misturava com os gentios e nem
tampouco lhes anunciava o evangelho.
Para que a igreja
abandonasse estes costumes e ações judaicas, Deus vai intervir de forma
sobrenatural na administração eclesiástica e no trabalho de evangelização.
Para esta atividade
de mudança radical na visão da igreja, Deus escolhe a Pedro. E para ser a
primeira família beneficiada com a boa nova ao alcance de todos, Deus escolhe
um centurião da coorte italiana de nome Cornélio.
Tudo começou quando
Cornélio teve uma visão angelical por volta das três horas da tarde (At 10.3).
Nesta visão Deus lhe dá revelações claras e precisas: 1) Deus diz o nome da
cidade para onde Cornélio devia enviar mensageiros; 2) Deus diz o nome da
pessoa a ser procurada; 3) Deus diz o nome do dono da casa onde está a pessoa
que deve ser procurada; 4) Deus diz a profissão do dono da casa; e 5) Deus diz
o ponto de referência para a localização da casa. Vejamos o texto: “Envia
homens a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro; este se acha
hospedado com um certo Simão, curtidor, cuja casa fica à beira-mar. Ele te dirá
o que deves fazer.”(At 10.5-6).
Como a ação é
do Espírito Santo, então não pode haver nenhum tipo de dúvida ou de confusão (1
Co 14.33). Assim, para confirmar a visão de Cornélio, Deus concede uma visão
para Pedro que é concluída com a seguinte frase: “Eis que dois homens te
procuram. Levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu tos
enviei”(At 10.19-20).
Pedro ao obedecer à revelação divina é impactado com a universalidade do
amor de Deus, a universalidade da salvação e a universalidade do batismo com
Espírito Santo, como diria Paulo mais tarde: “pois para com Deus não há acepção
de pessoas” (Rm 2.11).
No entanto, a
atitude de Pedro sofreu duras críticas por parte da igreja-mãe em Jerusalém.
Pedro tinha violado a lei e os costumes judaicos. Pedro visitou a casa de
gentios e fez ainda pior, admitiu estes gentios como membros da igreja e isto
até sem mesmo tê-los transformados em prosélitos por meio da exigência da
circuncisão. Pedro simplesmente passou por cima de toda a cultura religiosa dos
judeus e recebeu os gentios como irmãos pelo maravilhoso fato de que Deus os
tinha batizado com o Espírito Santo. Por isso Pedro também mandou batizá-los
nas águas (At 10.47.48).
Diante destes fatos, Pedro começa a enumerar os motivos de sua atitude para
uma assembleia ansiosa por receber explicações. Estes motivos segundo Pedro
enumera são respectivamente a visão celestial e as características que
culminaram no derramamento do Espírito Santo em casa de Cornélio. Pedro alega
que a pregação do evangelho fez cair sobre os gentios o mesmo dom que Deus
havia dado aos discípulos no dia de Pentecostes.
Após ter contado os
pormenores de sua visão celestial que vai desde o versículo 4 até o versículo
14 do capítulo onze em questão, Pedro resume o momento da descida com o
Espírito Santo com uma única frase no versículo 15: “E, quando comecei a falar,
caiu sobre eles o Espírito Santo”.
O problema deste
resumo é que passa a falsa idéia de que Pedro mal teria iniciado a pregação e
imediatamente o Pentecostes acontecera na vida dos ouvintes. No entanto no
capítulo dez onde os fatos estão narrados detalhadamente percebemos que Pedro
já tinha pregado uma boa parte de seu sermão que ficou registrado nos
versículos 34 ao 43. E o sermão que Pedro utilizou é riquíssimo e cheio de
mensagens evangelizadoras:
1) Ele afirma que Deus não faz acepção de pessoas (v.
34);
2) Ele afirma a universalização do amor de Deus e da
salvação (v. 35);
3) Ele afirma que a salvação vem dos Judeus, por meio
de Jesus Cristo (v. 36);
4) Ele afirma que a palavra da salvação já era de
conhecimento da Judéia e da Galiléia (v. 37);
5) Ele apresenta a Jesus Cristo como o ungido de Deus
(v. 38);
6) Ele afirma ser testemunha de Jesus e de sua morte
no madeiro (v. 39);
7) Ele afirma que Jesus ressuscitou ao terceiro dia
(v. 40);
8) Ele afirma que é testemunha dessa ressurreição
juntamente com outros discípulos (v. 41);
9) Ele afirma a ordenança que Jesus deixou para a
pregação do evangelho (v. 42);
10) Ele afirma que todo o que crê receberá a remissão
dos pecados pelo nome de Jesus (v. 43)
Pode-se notar que
a mensagem de Pedro é muito profunda. Esta é a mensagem principal do Evangelho.
Deus quer salvar a todos, por isso enviou Jesus que ao vencer a morte
ressuscitando dos mortos pode perdoar pecados a todo aquele que crê. Como
resultado desta mensagem maravilhosa é que o Espírito Santo foi derramado em
casa de Cornélio. Portanto a força do verbo “comecei a falar” não pode ser
levada muito longe no grego hebraizado.
Deste modo a expressão “E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito
Santo” significa apenas que Pedro não tinha terminado tudo o que queria dizer,
quando o Espírito Santo tomou conta da vida dos ouvintes e concluiu a mensagem
daquele dia.
Assim fica a lição de que não é pelo muito falar que Deus vai agir, mas
sim pela unção de quem prega e pela soberana vontade de Deus (Mt 6.7).
Reflita acerca disso!
Douglas Roberto de Almeida Baptista
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